
Crônica 01 – Alfredo dos Jornais
August 28, 2023
Pedro Freitas
September 4, 2023“Não Dissipe o Homem o que o Gil Reuniu”.
A Parede terá perdido com a dissipação das peças reunidas ao longo de dezenas de anos por Gilberto Cândido da Silva, um valioso conjunto do património histórico resultante da paixão pelo coleccionismo. Razões certamente justificáveis terão facilitado a cedência a terceiros de um vasto conjunto de peças abrangendo diversos temas, incluindo exemplares únicos, com a particularidade de apresentarem um estado de conservação e restauro impecáveis. A inércia humana para matérias que deveriam merecer maior preocupação e atenção, facilitou a perda para a Freguesia da Parede e para o Concelho de Cascais, de um valioso espólio, definitivamente irrecuperável para a autarquia.
Armas de fogo, armas brancas, apetrechos náuticos, ferros de engomar, almotolias, balanças de
correio, microscópios, campainhas de badalo, lanternas de viaturas antigas, moinhos de café,
chaves de comunicação morse, candeias de azeite, pulverizadores em cobre e um não determinado
número de outras peças, em conjuntos de famílias de objectos ultrapassando em alguns casos a centena,
estão hoje em local desconhecido, com destinatários eventualmente interessados apenas
nos aspectos materialistas que da sua posse advêm.
Merecia Gilberto Cândido da Silva este desfecho para o seu Atelier/Museu?
Não cabe qualquer julgamento acerca deste facto. Apenas e só que se justifica este apontamento de memória, deixado aqui com a angústia pelo desaparecimento de uma obra a que o seu autor dedicou, com a mais elevada competência e carinho, milhares de horas da sua vida.
A salvaguarda deste espólio seria certamente uma forma material de manter viva a memória do seu
proprietário.
Gilberto Cândido da Silva, o Gil como sempre foi tratado pelos mais próximos, mereceu em vida a retribuição da extrema amizade que sempre distribuiu ao seu redor. Quem teve o privilégio de com ele se cruzar nesta vida, sabe que ele foi a personificação da Amizade; da Amizade que dedicou, que alimentou, que defendeu e que ensinou.
Os cabelos brancos poderiam dar-nos alguma protecção contra o sentimento do vazio, quando a perda de um amigo nos deixa mais empobrecidos. Puro engano. Gilberto Cândido da Silva não poderia ser esquecido neste Memorial, referenciado como uma das figuras da terra, fiel intérprete do que foi ao longo dos anos a vivência entre os paredenses, um expoente de primeira grandeza com uma vida conquistada a pulso, desde que aos 11 anos de idade se tornou exemplo de uma prestigiada instituição bancária. Nela começou como empregado menor, terminando a carreira como gerente de uma das suas dependências mais importantes.
Embora reduzido, neste texto cabe ainda uma referência à sua actividade artística, especialmente no campo da cerâmica e da pintura em azulejo.
dos livros ” Parede a terra e a sua gente”
autor – José Pires de Lima


A fachada do atelier/museu do Gil


do atelier/museu
autor – José Pires de Lima
dos livros ” Parede a terra e a sua gente”


