
Homem furta ambulância que lhe ia prestar socorro
November 1, 2023INSTITUTO DA SAGRADA FAMíLIA
December 5, 2023JOAQUIM ANTÓNIO FARIA
Durante anos e anos, mais de quarenta, fardado a rigor, percorreu as ruas de Parede, sacola de cabedal presa no guiador da bicicleta, entregando porta a porta a correspondência de cada um. Não havia código postal, muitas casas não tinham número de polícia e apenas se identificavam, quando vivendas, pelo nome inscrito na fachada.

A correspondência, chegada muitas vezes apenas com o nome do destinatário, seguido do nome da terra – “Parede”, não confundia o carteiro. Sem qualquer hesitação, batia à porta e entregava em mão a carta esperada, ou se era casa com caixa própria, fazia-a entrar pela ranhura respectiva.
Por vezes, enquanto no interior das instalações dos correios Faria procedia à separação da correspondência de acordo com os trajectos programados para a sua entrega, alguém do lado de fora do balcão lançava a pergunta:
- Senhor Faria, há alguma coisa para mim?
E de imediato se efectivamente havia, logo
fazia a entrega poupando tempo a si e ao
destinatário

Todos o conheciam. De uma simpatia extrema, sabia os nomes de quantos viviam em cada habitação e tantas vezes, ao cruzar com alguém na rua, tinha o cuidado de dizer:
- Entreguei uma carta em sua casa!
Natural de Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas, freguesia localizada a 12 Km do concelho de Castelo de Vide a que pertence, o carteiro Joaquim António Faria nasceu em 31 de Janeiro de 1923.


Seus Pais, João Domingos e Adelaide da Conceição Paiva tiveram outro filho, nascido em 1920, Francisco Lopes Paiva que ficou apenas com o apelido da Mãe, enquanto Joaquim ficou com o do Pai.
Costumes da época que tornavam a identificação de membros da mesma família mais complicada.
Conta-nos o carteiro Faria que no seu Bilhete de Identidade o apelido do Pai ficou incompleto, apenas Domingos, e só foi corrigido e acrescentado o de Faria quando recentemente Joaquim decidiu tirar o Cartão de Cidadão. Com a certidão de nascimento, a correcção foi feita.
Diz-nos que gosta de se manter actualizado.
Na sua terra fez a 4.ª classe da instrução primária e com essas “letras” ficou. Não fez serviço militar mas “assentou praça e fez recruta” entre os 23 e os 27 anos nos Correios de Carcavelos, onde iniciou a profissão, contratado de Maio a Outubro, quando o trabalho apertava na zona pela maior afluência de veraneantes.
Vinha da terra em Maio e regressava em Outubro.
Em 1950, finalmente com emprego garantido todo o ano, iniciou a actividade nos Correios da Parede, quando estes tinham a sua sede na Rua da Vigia e a “chefe” da Estação era D. Virgínia Lopes Caeiro.
Casou em 1954 com D. Armandina Maria Godinho Faria, natural do Monte da Pedra, no concelho do Crato, distrito de Portalegre, que lhe deu dois filhos, senhora com quem viveu até à sua morte em 2007.
Tem um filho casado e outro solteiro. Netos são dois.
É um Senhor no tratamento e na forma como se refere às pessoas que conheceu ao longo da vida, um contador de histórias “do seu tempo” e uma grande figura da terra.
Há muito que ganhou o direito de entrar nesta galeria, pelo contributo que deu em mais de meio século de trabalho, mas sobretudo pela simpatia que distribui por toda a gente.

Crônica nº 3 de José Pires de Lima / Novembro 2023

José Pires de Lima
José Pires de Lima

