
Domingos José de Moraes Júnior
December 15, 2022
Casal de S. José
December 15, 2022A ideia de trazer à Memória a vida de Parede e das suas gentes, embora aflorada em “conversas de café”, foi decisão firme tomada em 15 de Julho de 2007 quando me foi dado participar no almoço de aniversário de uma das personalidades com maior carisma que a Parede tem:
Wenceslau Balseiro Guerra, que nesse dia festejou o seu 1.º centenário, reunindo à sua volta um numeroso grupo de amigos, fez passar por todos a verdadeira imagem de Parede – a do respeito pelos mais antigos, a da saudade dos
que já partiram e o prazer de recordar as histórias de um passado que ficou. O espírito que mostrou manter leva-nos facilmente à conclusão que nada tem limite nesta vida.
Seu filho António, referiu, na ocasião, que a presença de tantos naquele dia era igualmente uma forma de lembrar todos os Pais que a Parede conheceu e que são memória viva que importa manter.


A palavra de António Domingos Moreira
Guerra:
O meu pai pediu ao seu único filho (sempre detestei o que acarreta a denominação “filho único…”) e que, concomitantemente, é o seu maior amigo de sempre, que escrevesse umas palavras para prefácio do resumo que se segue.
Na verdade, o meu pai tem uma vida tão rica e diversificada, que qualquer assunto que abordasse intensamente consumiria páginas e páginas.
O texto que continuarei a designar por “resumo”, é uma obra notável, escrita aos 99 anos, de memória, escrevendo hoje uma página, outra amanhã e rasgando outra no dia seguinte.
Foi um trabalho de muita coragem, aquela coragem que ele sempre demonstrou e que os velhos amigos e conhecidos sempre admiraram – e porque não? – até invejaram.
Não houve estranhos a gravar, a compor. Directo da memória para o papel. Só muito “ao de leve” este resumo retrata a vida de um homem fabuloso que muito possivelmente atravessou o século de maior mudança da Humanidade. Como me dizia quando o homem foi pela primeira vez à Lua:
- “O meu pai veio a pé de Vieira de Leiria para Lisboa e eu estou, sentadinho em casa a ver, na televisão, o homem chegar à Lua!”
A sua vida comercial daria um livro grande; a vida familiar, outro; as amizades, um mundo; a caça, que praticou durante muitas dezenas de anos e de forma mais esporádica até aos 93 anos, sendo considerado um atirador de elite, outro mais. Substituiria a caça pela pesca para poder ensinar, ajudar e gozar da companhia de seu neto Gonçalo, que ainda hoje relata ao avô as suas pescarias e não dispensa a sua companhia na refeição em honra do peixe apanhado. Em outra passagem “do resumo” fala da sua actividade política, nunca tendo sido político.
De tal forma anti-político, que o seu grande seguidor, eu próprio, me mantenho apolítico graças às suas conversas de dezenas de anos sobre o assunto.
Veio rapazinho para a Parede, aqui cresceu, vingou na vida, constituiu família e vai em dois bisnetos. É a sua terra de adopção desde 1924, com ligação a todas as colectividades, excepto ao Clube Nacional de Ginástica.
Sempre disse que a Parede, nesse tempo (1950), não tinha dimensão para dois clubes desportivos. Assim, para não atraiçoar o seu Parede Futebol Clube, de que é co-fundador, foi seu filho António quem se inscreveu como sócio do Nacional de Ginástica, embora fosse seu pai a pagar as respectivas cotas.
Mas Vieira de Leiria, que o viu nascer, tem ainda um cantinho no seu coração.
É com muito orgulho que vos convido a ler o resumo dos “Primeiros 100 anos de meu Pai”
a)António Guerra
A palavra de Wenceslau Guerra:
Poema e curriculum dos 99
Fui romeiro de vida sacrificada
Nos agrestes tormentos de sofrer
Pedindo bonança de madrugada
Nos pedidos subtis de temer
Donde vim? Quem sou? Alma humilde sem acção
Mas com impulso firme e miraculoso
Pois pulsou sempre forte e bem o coração…
Sob o velho burel à falta do meu repouso
Estas portentosas imagens de tortura
Vividas antes da minha adolescência
Bem revelam o sofrimento e amargura
Dum ser que só vencia pela sua apetência
Assim, ocultando parte da minha história
Consegui entrar no reino da juventude
Esquecendo as faltas de memória
Pedi a Deus me desse toda a virtude
Naturalmente que gostava de contar a minha
vida, ou parte dela, em verso. Mas como estou a
escrever estas ideias já com 99 anos feitos, a
idade já não permite “engenho e arte” para o
fazer. Assim sendo, com versos aqui e versos
acolá, vou dar início à prosa.
Nasci em Vieira de Leiria sendo o mais novo de
seis filhos, tendo duas irmãs e três irmãos.
Infelizmente, ficámos reduzidos a cinco quando
ainda não tinha 10 anos, pois o meu irmão mais
velho, o Manuel, morreu durante a 1.ª Grande
Guerra em Moçambique, onde estava mobilizado.
À rua onde vivíamos foi dado o seu nome – rua
Manuel Balseiro Guerra, que ainda hoje existe.
Depois de uma passagem breve pela escola
primária de Vieira, e como a vida não estava
fácil, comecei a trabalhar. O meu primeiro trabalho
foi numa exploração florestal com o meu
pai e meus irmãos.
Seguidamente, já com 12 anos… vim trabalhar
num estabelecimento de madeiras no Barreiro,
que troquei aos 14 anos para poder vir para
Lisboa para uma firma importante, também no
negócio de madeiras.
Aqui, um pouco abandonado ao destino e com
16 anos, arranjei uma namorada com 15 à qual
escrevi um poema que a seguir transcrevo:
Ginita
Meu Querubim de carne rosada
Com olhos de encantamento
Para sentir tua boca beijada
Vou rogar a Deus no firmamento
Minha pérola de sedução
Minha pétala de linda flor
Quero para mim teu coração
Quero viver na vida o teu amor
Desejo apertar-te nos meus braços
E seduzir-te com os meus beijos
Ambiciono os teus abraços
E envolver-te nos meus desejos
a)Teu Sonhador 1923
Voltemos à prosa:
Vinda para a Parede
Curiosamente, depois de completar os meus 16 anos, fui abordado pelo dono da firma para me dizer que tinha constituído uma sociedade com o proprietário de outro estabelecimento, igualmente de madeiras e outros materiais de construção e desejava ter nesta firma (Caniço & Ribeiro) um representante seu. Dos seus sete empregados escolheu-me a mim para desempenhar essa missão, apesar de eu ser o mais novo e o mais moderno de todos. Com esse cargo, disse, eu beneficiaria de melhoria no meu ordenado e da ocupação do primeiro piso que existia por cima do escritório, apesar de ir viver sozinho.
Eram quatro divisões assoalhadas. Aceitei o desafio e foi assim que vim para a Parede.
Aconteceu, quando tinha 18 anos, que os sócios se incompatibilizaram e o empresário que me enviou para a Parede ficou como único proprietário da empresa e eu fiquei isolado a dirigir a casa, com a promessa de, quando tivesse cumprido o serviço militar, o estabelecimento ser para mim nas melhores condições.
Acordo firmado e, no início de 1930, fizemos a escritura.
Foi a partir daqui que enfrentei uma nova vida, aliás carregada de responsabilidades financeiras pessoais, que algum tempo depois já tinha, em parte, vencido.
Estávamos em 1937, que já ia longo e estava a correr favoravelmente, confirmado quando Deus nos prendou com o maior prazer da minha vida – o nascimento do meu filho, que como um facho luminoso me orientou na colina sinuosa a percorrer na vida, como quem me levava pela mão e que jamais me deixou viver sem um ambiente sonhador e expressivo, pela sua ternura e amizade a que eu e sua mãe sempre correspondemos com a maior sedução e carinho, com beijinhos a todo o momento.

Primeira festa de Natal de colaboradores da Estância Wenceslau B. Guerra, em 1954
1-Joaquim (do casino); 2-António Coimbra das Neves; 3-Vasco Carvalho; 4- Noé Nunes; 5-Manuel Vieira da Rosa (Maltês); 6-Paulo Caetano; 7- Wenceslau Balseiro Guerra; 8-Paulo (Canhoto); 9-(Jornalista de Cascais); 10-Neves; 11-José (sogro Alexandre Agostinho); 12-Diamantino (Leiria); 13-Alfredo; 14-Luís João; 15-Bernardino dos Santos (motorista); 16-Henrique Luís; 17-Joaquim Matias de Oliveira (Lagóia); 18-Duarte Mora (Farmácias); 19-António (ferro velho – motorista); 20-(Bicesse); 21-; 22-Virgílio Pimpão; 23-(sogro do joão Mota); 24-Carlos Talenta; 25-Carlos Serra; 26-Caramujo (Pintor); 27-Paulo; 28-Manuel Santos Cabeça (Albarraque); 29-Arnaldo Coimbra das Neves; 30-Américo dos Santos; 31-Germano Duarte; 32-; 33-Filipe; 34-; 35-Miranda (motorista); 36-Carlos (Lagóia); 37-Paulo (Lagóia); 38-Francisco; 39-João Nunes; 40-; 41-; 42-Empregado do Narciso; 43-Empregado do Narciso; 44-; 45-Etelvina Leitão 46-(mulher do Júlio Pintor)
No relato de memória, Wenceslau Guerra tem presente o desenvolvimento da sua vida empresarial, enumerando as diversas sociedades em que se empenhou, nomeadamente numa fábrica de tacos de madeira para soalhos em Vila Viçosa aproveitando a madeira de azinho, até aí apenas utilizada nos equipamentos de lavoura, tais como carros, rodas, cangas e vedações. Procedeu também ao aumento da área da estância de Parede e abriu uma filial desta em Albarraque, inaugurou uma loja de móveis em Oeiras e nova estância de materiais de construção, agora em Palmela.
É longa a descrição da sua actividade na área da construção civil a que se dedicou em vasta zona da Costa do Estoril, com sucessivas compras de terrenos e prédios, seguindo-se a sua valorização e obtenção de benefícios importantes.
Uma excepção a esta actividade de compra e venda – o negócio da compra da propriedade onde se situava a estância, pelo valor de 480.000$00 e logo depois a aquisição da Vivenda Gaspar, a primeira casa à saída da estação do caminho-de-ferro de Parede, com frente para a Rua 5 de Outubro e extrema Norte com a propriedade da estância, que habitou durante quase 50 anos.
Não se limitou Wenceslau Guerra à actividade empresarial. Convidado pelo director de “O Século”, João Pereira da Rosa, aceita a correspondência do jornal para a Parede e arredores, missão que desempenhou enquanto este diário se publicou. Assume ainda o cargo de Presidente do Conselho Fiscal da empresa proprietária do “Jornal de Cascais”, a convite de João Martinho de Freitas, lugar em que se manteve durante quatro anos.
Em resultado destas ligações com a imprensa, relata-nos Wenceslau Guerra:
Curiosamente estes contactos com a imprensa levaram-me a ir mais longe e visto que só havia uma revista -“O Século Ilustrado”- que era semanal, resolvi criar uma revista mensal com características diferentes, projecto a que imediatamente me lancei estudando todos os pormenores de interesse. E logo cheguei à conclusão que a nova revista “Divulgação” deveria ter algo de diferente. Como inovação a ideia de que a publicidade paga deveria compensar a distribuição gratuita pelo público.
Quando já tinha a orientação e as contas feitas, convidei para meu sócio o locutor e empresário da rádio, Marques Vidal que deu o seu acordo, iniciando-se o trabalho agora dividido por dois futuros sócios.
O projecto, no entanto, não foi avante porque a Marques Vidal foi oferecida a entrada num restaurante, já em funcionamento e ele decidiu trocar o negócio da revista por este. Cansado e doente decidi parar.
É que, concomitantemente, era Presidente da Junta de Freguesia de Parede, dirigia o Mercado que a Junta entretanto melhorara, era Vogal do Conselho Municipal de Cascais e ainda Vogal do Conselho dos Serviços Municipalizados de
Águas e Saneamento da Câmara de Cascais.
Segundo a opinião dos médicos foi por excesso de actividade na minha vida, no final da década de 40, que tive um aumento da crise de saúde que me levou a estar três semanas num esticador, preso pela cabeça, sobre um estrado de madeira só almofadado por um cobertor.
Neste ponto do seu descritivo, Wenceslau Guerra salienta a atitude de seu filho perante o seu estado de saúde.
Meu filho tinha um bilhete para ir ao cinema, mas não foi. Veio para casa, silenciosamente e escreveu uma meia folha de papel com a redacção mais ou menos como segue:
- “Meu Pai, não me agradeça mas eu não fui ao cinema e vim para casa, por me lembrar do sofrimento do meu pai, apesar de eu estar habituado à sua coragem. Em lugar do bilhete para o espectáculo escrevo este papel para lhe dar coragem, mas sem querer, nele caíram lágrimas que chorei por saber do seu sofrimento. Assim, se for preciso para alguma coisa é só chamar-me. Deus dê coragem também à minha mãe para o acompanhar, tratar e proteger e que tudo corra bem para voltarmos ao nosso convívio feliz.
Aceitem beijinhos e o desejo das melhoras do pai, que manda o vosso filho do coração”

a)Tonito
Como facilmente se pode julgar, uma atitude destas de meu filho, quando ainda não tinha 14 anos, foi sentida profundamente pela minha sensibilidade. Deu motivo para eu juntar as minhas lágrimas às dele, que caíram no papel
que tão sentidamente me escreveu.
Depois de todo o esforço clínico dos dois médicos que me trataram, recuperei em parte antes dos 49 anos, sendo possível retomar algum contacto com a vida comercial.

Desde esta recuperação até aos 52 anos, efectua uma análise completa da situação económica e financeira das suas empresas e toma a decisão de terminar a actividade intensa até aí empreendida. Coloca em venda as suas posições “ficando mais à vontade, para, se tivesse oportunidade, aproveitar algum negócio de ocasião menos trabalhoso.
Como já era correspondente do Banco Espírito Santo, há cerca de dez anos, continuei.”
A actividade bancária teve novo episódio, quando a Direcção do Banco Burnay lhe propôs ser seu correspondente em Parede e arredores. Como condição para aceitar o cargo, sugeriu que essa correspondência tivesse também funções de Agência. Não sendo uma situação legal o Banco, no entanto, aceitou-a e assim se manteve durante quase três anos, com grande êxito.
Mais tarde, foi concedido legalmente o alvará de Agência ao Banco tendo sido convidado para seu gerente, posição que recusou.
Reconhece a forma como o seu trabalho foi apreciado, pois durante o período de dois anos e meio a instituição bancária, como compensação pelo sucesso alcançado até ali, manteve-lhe a mesma retribuição mensal que auferia.
Nas páginas iniciais do livro refere-se que este trabalho pretende ser uma homenagem às suas gentes, revivendo figuras que a nossa memória recusa esquecer, sem distinção de posições sociais ou de estatutos que mais não são do que acasos da vida, tornando relevante as suas actividades enquanto paredenses de alma, nascidos ou não na terra, mas nela vivendo, convivendo e trabalhando.
Wenceslau Balseiro Guerra é uma dessas figuras que embora não tendo nascido na terra, teve uma actividade relevante enquanto paredense de alma, nela convivendo e trabalhando, como o próprio descreve na sua história oral retida e gravada quando se disponibilizou a contá-la caminhando para a comemoração do seu “1.º centenário”.
Fui fundador do Parede Futebol Clube, onde militei continuamente nos seus corpos gerentes durante os seus primeiros 45 anos. Organizei festivais desportivos de futebol, atletismo, natação e outros. Fui seu Presidente da Assembleia Geral e também Presidente da Assembleia Geral da Sociedade Musical União Paredense (SMUP), da Escola Primária 31 de Janeiro e da Associação Humanitária Amadeu Duarte. Hoje sou, orgulhosamente o sócio n.º1 de todas essas colectividades.

Fez parte do Corpo Activo dos Bombeiros Voluntários de Parede, foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Parede quando esta foi criada após a separação de São Domingo de Rana, em 1953 (1) e manteve, para além disso, uma presença constante em manifestações de amizade entre paredenses.

No número único do jornal do Parede Futebol Clube, editado para comemorar o 4.º aniversário da sua fundação, em 14 de Fevereiro de 1932 e que mais detalhadamente se apresenta no capítulo sobre este clube, Wenceslau Balseiro Guerra foi um dos seus redactores, figurando ainda nesse número seus irmãos António e José, o primeiro como redactor e o segundo como editor da publicação. Como curiosidade, o Director foi António Oliveira Menderico, chefe da Estação dos Caminhos de Ferro e marido da Gracinda do Quiosque.
Prestes a terminar o seu depoimento, uma lembrança para alguns amigos ligados por um elo que foi uma das suas paixões – a caça. Destaca Fernando Sousa, o coronel António Sarmento, os Drs. Artur Azevedo Rua e Henrique Barata Pereira, médicos na Parede, o Dr. Cândido de Sousa, médico veterinário municipal, para além da amizade com Luís Ribeiro, seu ex-patrão em Vieira de Leiria e com o industrial Albano Tomé Feteira “que sempre pretendeu que eu fosse seu sócio.”

Na festa que reuniu mais de uma centena de amigos em 15 de Julho de 2007, nas palavras de agradecimento que dirigiu aos presentes, de improviso, Wenceslau Guerra referiu particularmente a importância que a família teve na sua vida. O documento então oferecido aos presentes resume esse improviso:


Impõe-se sagradamente que diga quanto do reconhecimento divino guardo em mim, pela colaboração durante muitos anos que me foi prestada por aquela a quem dei e de quem recebi, o seu amor, minha mulher, e que o destino
levou deixando-me uma eterna saudade.
Os dois continuámos a árvore genealógico das duas famílias com o nascimento, em 1937 do meu filho, que nos encheu a casa. Mais tarde, o meu filho casou com aquela que eu considerei sempre a minha “filha” Natália. Vieram os meus queridos netos Gonçalo e Catarina, com quem brinquei muito quando eram crianças.
Que saudades desse tempo! E como se não bastasse, eis que a Catarina me presenteia com a minha bisneta Caetana, um amor. E mais virão se Deus quiser.
Estes são os frutos que colhemos e que classificamos de pérolas sagradas, com as quais se criou o colar que trago na alma suspenso pela mão de Deus.
E depois de querer gravar
Os anais da minha história,
Sinto-me vencido e sem glória,
Mas com apetência para continuar
Nas agrestes veredas da memória.

Documento de compra e venda da propriedade onde se encontrava instalada a Estância Wenceslau B. Guerra & Irmãos, em Parede:
“Eu, abaixo assinado, Luís Ribeiro, viúvo, comerciante, residente na rua Gualdim Pais n.º 78, em Lisboa, declaro que recebi do Snr. Wenceslau B. Guerra, comerciante, morador em Parede, a quantia de cento e noventa mil escudos,
que juntamente à de trinta mil escudos que me foi entregue em seis de Maio do corrente ano e à de cento e sessenta mil escudos que também me foi entregue em vinte e nove do mesmo mês, perfaz a quantia total de trezentos e oitenta mil escudos, preço porque me comprometi vender-lhe, livre de encargos ou ónus, a propriedade que possuo em Parede, freguesia de S. Domingos de Rana, concelho de Cascais, na Avenida da República N.ºs 89, 89A, 89B, 89C e 89D, que confronta do Norte com a Avenida da República, do Sul com a gare do caminho-de-ferro, do Nascente com Joaquim Rodrigues da Silva e o comprador e do Poente com António Alfaia de Carvalho, descrita na 3.ª Conservatória
de Lisboa sob o número ( ) e inscrita na respectiva matriz sob o artigo ( ) em cuja venda está compreendida tanto a parte rústica como a urbana, assim como todas as máquinas, utensílios e quaisquer outros objectos que me pertençam, ficando assim a referida propriedade e tudo o mais descrito, inteiramente pago, pelo que me obrigo a assinar a respectiva escritura de venda logo que o mesmo Snr. o pretenda. A referida escritura será feita em nome do comprador podendo desde já dispôr livremente de tudo o que lhe vendi e a que esta declaração faz referência, como quiser e entender.
Lisboa 24 de Setembro de 1952

dos livros ” Parede a terra e a sua gente”
autor – José Pires de Lima


