
Chalet Álvares
December 15, 2022
Vila Joana
December 15, 2022Antiga Vivenda Alonso

Primitivamente conhecida por “Vivenda Alonso” a moradia que fora propriedade de Porfírio
dos Santos Cartaxo, foi vendida em 19 de Maio de 1930 ao capitão piloto aviador Celestino
Paes de Ramos. Este alterou-lhe o nome para “Vila Alice” em homenagem a sua mulher.

Capitão Piloto-Aviador

Em primeiro plano (2), a casa construída para habitação do médico Dr. Dionísio Camilo Álvares
Ao fundo, a vila Joana (3), moradia do princípio do mesmo século, propriedade do Vice-almirante Vicente
Maria de Moura Coutinho de Almeida d’Éça. Sobre a direita a moradia de Fernando Figueiredo Neto (4)
Pertencente ao património urbanístico da Parede, esta casa que ao longo de décadas tem sido preservada na sua traça original, pelos seus proprietários, não é referida apenas pelo seu valor histórico.
Assume uma relevância especial pelo facto de ter sido propriedade do capitão Celestino Paes de Ramos, um oficial piloto aviador, pioneiro, que Portugal consagrou como um dos seus heróis pelos feitos que neste capítulo se descrevem.
Nota:
O arquitecto Pedro José Paes de Ramos Guerreiro, a quem se agradece a cedência das fotografias
e documentos apresentados neste capítulo, é neto do capitão piloto-aviador Celestino Paes de Ramos
Numa fotografia aérea obtida pelo próprio capitão Paes de Ramos, é visível o enquadramento desta moradia no conjunto urbanístico da época, destacando-se, na sua vizinhança, para Poente, a casa mandada construir pelo médico Dr. Camilo Dionísio Álvares.

Destaque para as moradias de Celestino Paes de Ramos (1), do Dr. Camilo Dionísio Álvares (2), para o Mercado da
Parede, na rua José Relvas (3) e para a moradia de Francisco Libório da Silva (4). Reconhece-se a rua Professor Jacinto
Nunes (5), a moradia de Fernando Figueiredo Neto (6) e o primitivo edifício da Escola 31 de Janeiro (7). Com o n.º 8,
o local onde actualmente se ergue o café-restaurante “Limo Verde”.

para pagamento da parte final do valor em dívida de 40.000 escudos, realizada em 4 de Dezembro de 1930.

O documento junto refere o pagamento, em 1940, de um imposto camarário de 34$20


“As primeiras etapas são cobertas normalmente, como de antemão haviam previsto. Mas…o eterno mas!
De Agadir ao cabo Juby, etapa bastante tormentosa. Foram aqueles nossos bravos e gloriosos aviadores,
surpreendidos por vários tornados e fortes tempestades.
É naquela ocasião que bem demonstram as suas excepcionais qualidades de perícia, tenacidade e saber, de intrépidos e destemidos aviadores da nossa briosa 5.ª arma. Passam por todas as inclemências, sem um minuto de desânimo, sempre para a frente, com estoicismo, confiantes no seu «Eu», como convinha, para Honra e Glória da Aviação de Portugal. Asas Gloriosas! Bravos Aviadores!
Depois, em determinada altura da viagem, receberam um cativante convite da população da Ilha de S.
Tomé, para desviarem a sua rota, para visitarem aquela ilha. Cederam!
Em fins de Setembro d’aquele ano de 1928, os dois aviões «Vickers» com os seus bravos tripulantes,
atingem a ilha de S. Tomé, depois de um longo vôo sobre o oceano Atlântico feito com a máxima precisão.
Aterram.
No campo, quase a população em peso, 5.000 mil pessoas, louca de entusiasmo, aplaude freneticamente
os tripulantes dos dois «Vickers».

República (GEAR), na povoação da Amadora uma parelha de aviões Vickers Valparaíso I, equipados
com motor Napier de 450 cv, com o objectivo de ligar a Metrópole a Lourenço Marques, capital
da Província de Lourenço Marques. Com a duração de 51 dias e escalas em mais de 30 localidades,
ficaria para a História como a primeira viagem aérea efectuada ao conjunto das províncias portuguesas
do continente africano, sendo também a primeira vez que uma expedição do género era realizada
por dois aviões.
Até àquela data, as ligações aéreas com as províncias resumiram-se às viagens a Macau em 1924 e, no ano seguinte, à Guiné, ambas com aviões isolados.
As tripulações dos Vickers Valparaíso 1 e 2 eram constituídas, respectivamente, pelo capitão
Celestino Paes de Ramos (piloto e chefe de equipas), tenente João Maria Esteves (navegador), capitão
António Oliveira Viegas (piloto) e primeiro-sargento Manuel António (mecânico).
Destes quatro elementos, somente o 1.º sargento Manuel António tinha experiência deste tipo de viagens, pois fizera
parte, conjuntamente com o capitão Pinheiro Correia e o tenente Sérgio da Silva, da tripulação que levara a cabo, em Março de 1925, o «raid» Lisboa – Guiné”.
Muita gente abraça os bravos aviadores, chorando de alegria, conduzindo-os aos ombros, em triunfo,
para a cidade. Eram bravos de Portugal que pela primeira vez levavam a S. Tomé as gloriosas asas com
a Cruz de Cristo.
Bravos Aviadores! Asas Gloriosas!
Aos dois dias do mês de Outubro de 1928, descolam às 11 e 30, os dois «Vickers», rumo a Angola,
escalando Port Gentil e Point Noire. No dia 3 daquele mesmo mês e ano, a população desta capital dá
às ruas de Luanda um movimento fora do vulgar. Há alegria e entusiasmo por todos os lados. Está
para chegar a esquadrilha de 2 aviões que estabelece a 1.ª ligação aérea Portugal – Angola, pelo ar.
O jornal «A Província de Angola» tinha oferecido um prémio de 100.000,00 angolares para a primeira
equipa portuguesa de aviação que da Metrópole viesse a Angola.
São 15 horas do dia 3 de Outubro de 1928. Ao campo de aviação começam a chegar centenas de pessoas
que vão aguardar a vinda dos destemidos aviadores.“
Extracto do texto da Revista Mais Alto, de Novembro de 2003, da autoria do 1.º Sargento Pedro Manuel Ferreira

“Ao tenente João Esteves coube o estudo do percurso – tarefa à qual se dedicou durante seis meses, tendo
em muito contribuído os valiosos ensinamentos que colheu do almirante Gago Coutinho e do capitão Jorge de Castilho.
O capitão Oliveira Viegas havia estado em Angola entre 1921 e 1924, onde prestara serviço no Grupo de Esquadrilhas de Aviação do Huambo, até à sua extinção, dois anos depois.
Regressado à Metrópole, comandou a Esquadrilha de Caça n.º1, em Tancos, entre Dezembro de 1924 e Fevereiro de 1926 e, após uma curta permanência no Depósito de Material Aeronáutico, em Alverca, rumou ao GEAR, na Amadora.
Finalmente o chefe de equipas, capitão Paes de Ramos, foi um dos pioneiros da Esquadrilha Inicial Expedicionária à Província de Angola, em finais de 1918, seguindo em 1921 para o Huambo, após a transferência da Esquadrilha Expedicionária para aquela localidade, agora com a designação de Grupo de Esquadrilhas de Aviação de Angola. Paes de Ramos contava no seu curriculum, as viagens aéreas Lisboa – Madrid (em 1923 e 1925) e Lisboa – Casablanca – Lisboa, em 1926, esta última com Jorge de Castilho e de cariz científico.”
No campo está uma avioneta de Lady Bailey.
Às 16 horas, dois tiros da Fortaleza de S. Miguel, anunciam a passagem dos dois aviões pelo Ambriz. Milhares de pessoas se encontram já no campo, ansiando a chegada dos gloriosos aviadores, para os aclamar e vitoriar. Às 16 e 30 chega o Alto-comissário, senhor coronel Vicente Ferreira, acompanhado de sua esposa e filha.
São 17 e 10. Lá vêm os gloriosos e intrépidos aviadores, imponentes nos seus aparelhos, que pela vez
primeira estabelecem a ligação aérea Lisboa – Angola.
«Bravos Aviadores! Asas Gloriosas!»
O avião pilotado por Paes de Ramos, «pica» sobre Oliveira Viegas, evoluciona o aeródromo e de
seguida vai poisar, garboso, ao lado do seu companheiro.”

Retomamos o relato publicado na Revista «Mais Alto», de Novembro de 2003, da autoria do 1.º sargento Pedro Manuel
Ferreira.
“Outro banho de multidão aguardava os tripulantes dos Vickers na sua chegada à capital da Província de Angola, no dia 3 de Outubro.
Em Luanda receberam o prémio «Sacadura Cabral», instituído anos atrás para o primeiro voo que, saído da metrópole, atingisse Luanda na importância de 100.000 escudos, obtidos em Angola por subscrição pública levada a efeito pelo jornal «A Província de Angola».
Também a Associação Beneficente dos Empregados do Comércio local se associou ao evento, oferecendo uma taça adquirida por subscrição.
Finalmente, no dia 9, os Vickers descolam de Luanda rumo a Benguela. E após passagens por Elisabethville e Broken Hill, os aviadores chegam ao Zumbo, já em território moçambicano. Esta escala, não prevista, tornou-se necessária para reparação de avarias nos motores dos Vickers.
A chegada a Lourenço Marques, a capital da Província, acontece pelas 13h 31 (hora local) do dia 26 de Outubro, onde eram aguardados pelas autoridades civis e militares e por representantes de diversas associações económicas e sociais e de muitas agremiações culturais e desportivas moçambicanas.
Tinha-se ligado por via aérea a Metrópole a Lourenço Marques e, a esse propósito, podia ler-se numa
edição da «Revista do Ar» – Portugal completou assim, a exemplo de outras nações, todos os seus estudos
acerca das relações aéreas com os seus domínios e podemos dizer com vaidade que nos colocámos ao
mesmo nível das outras potências nesse capítulo.
Embora a euforia quase generalizada, levasse a acreditar que estava aberto o caminho das comunicações aéreas regulares entre a Metrópole e o Ultramar, só passados 30 anos é que o desejo de aproximação entre o Mundo português se concretizou…
Recebidas as homenagens soara a hora do regresso à Metrópole. O capitão Paes de Ramos, o tenente João
Esteves e o 1.º sargento Manuel António embarcaram para Lisboa, a bordo do navio «Niassa», aonde
chegaram no dia 15 de Dezembro. A 4 de Janeiro era a vez do capitão Oliveira Viegas desembarcar na
capital, para onde viajara, via Suez, no paquete alemão «Usubara».
Escrevia a «Revista do Ar», que a recepção aos aviadores não tivera o desejável brilhantismo “por falta
de compreensão do público português a respeito de assuntos aeronáuticos. Em outra qualquer nação,
esses homens seriam recebidos como heróis; na nossa terra passaram quase despercebidos no meio da multidão.
Por uma coisa marcaram: pela modéstia com que se apresentaram depois do dever cumprido”.
Os intérpretes desta ligação aérea do espaço luso não terão encontrado em Lisboa a recepção popular dedicada a viagens anteriores, talvez mais mediatizadas e aglutinadoras do tecido social da época, no fundo pioneiras de aspectos científicos da navegação astronómica que guindaram os nossos aviadores a uma posição de relevo mundial.
As autoridades do Estado, não deixaram porém, de reconhecer o feito realizado, concedendo o Ministério
da Guerra, a «medalha de Ouro de Bons Serviços» aos oficiais e a «medalha de Cobre» ao 1.º sargento
mecânico. Posteriormente, todos foram condecorados com a «Ordem Militar da Torre e Espada»

A Biografia de Celestino Paes de Ramos refere que foi oficial da Arma de Aeronáutica, piloto-aviador e desportista. Nasceu em 21-6-1895, em Abrantes e faleceu em 11-4-1940, na cidade de Lisboa.
Fez o curso dos liceus no Colégio Militar, de 1906 a 1915. Em 1915, ainda aluno do Colégio Militar, foi campeão de Portugal de salto à vara, como representante do Sporting Clube de Portugal, nos Jogos Olímpicos Nacionais.
Alcançou várias medalhas e outros prémios em provas desportivas e de Educação Física, no Colégio Militar, em campeonatos inter-escolas e nacionais.
Assentou praça como voluntário em 24-7-1915, no Regimento de Cavalaria 5.
Tirou os Preparatórios para a Escola de Guerra, na Universidade de Coimbra, em 1915- 1916 e fez o curso de Cavalaria daquela Escola, em 1916-1917, tendo sido promovido a Aspirante a oficial, em 5-5-1917 e a Alferes, em 3-9-1917.
Em plena guerra de 1914-1918, fez parte do C.E.P. (Corpo Expedicionário Português), tendo embarcado para França em 15-10-1917.
Ali tirou o curso de piloto-aviador militar que terminou em 4-2-1918, regressando a Portugal em Março desse ano.
Entre Novembro de 1918 e Novembro de 1920 esteve destacado em missão militar em Angola e a esta Província voltou, no posto de tenente, para nova comissão, entre Maio de 1923 e Maio de 1924, integrado no Grupo de Esquadrilhas de Aviação.
Foi promovido a capitão em 1926 e a major em 1937.
Executou as seguintes viagens aéreas: em 1923 e 1925, Lisboa-Madrid; em 1926, Lisboa- Casablanca-Lisboa; em 1928, Lisboa-Lourenço Marques.
Da sua folha de serviços constam diversos louvores, possuindo várias medalhas e condecorações destacando a medalha comemorativa do C.E.P. com a legenda «França 1917-18», as Ordens Militares de Cristo e de Aviz, a medalha de Ouro de Bons Serviços e o Colar de Oficial da Torre-e-Espada.

O respeito pela traça original da sua construção é visível em todos os pormenores das suas fachadas
dos livros ” Parede a terra e a sua gente”
autor – José Pires de Lima


