
Pastelaria Monte Rei
December 25, 2022
Os “Charutos” e as “Chatas”
December 25, 2022Não é apenas um simples caso de sucesso de uma família que escolheu a Parede para se lançar numa actividade empresarial.
A «Casa dos Queques» “esconde” na sua história um drama de vida, infelizmente
não único, consequência de um período anárquico e com responsáveis conhecidos e impunes, que lançaram milhares de portugueses na miséria, obrigados a um reinício de vida após terem sido espoliados, quantas vezes do muito pouco que conseguiram amealhar, em dezenas de anos de permanência nos antigos territórios do Ultramar português.
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Foi em 1975 que tudo terminou e tudo começou. E na memória desse tempo, trazida para o presente decorridas quase quatro décadas, mantém-se bem viva a angustia pela destruição do sonho africano desta família, acrescida dos momentos de incerteza, não menos dramáticos, pelo recomeço de vida num regresso precipitado rumo a Lisboa.

“Hoje, trinta e sete anos após a nossa vinda de África (Angola), consigo percorrer mentalmente e de forma nítida todos os caminhos que fazem parte da minha infância, bem como da minha estada em Portugal.
Tudo o que deixámos quando em 1975 tivemos, como tantos outros milhares de portugueses, de rumar ao continente e abandonar África. Não me atrevo, por isso, a fazer juízos de valor nem a relatar pormenorizadamente tudo porque passámos nestes anos.”
Assim iniciou o seu relato de memórias a filha do casal, Elsa Miranda Ferreira, trazendo para o presente a visão marcante da sua juventude de há mais de um quarto de século.

E prossegue:
“Na realidade, trouxemos apenas como bagagem, uma mala, depois de tantos anos em África, e que uma descolonização precipitada nos obrigou a deixar, e tudo o que tínhamos, num território de tantos recursos. Ali vivi os anos mais felizes da minha vida, com meu irmão e meus pais. Os anos que permitem descobrir o mundo sem condicionalismos.”
No seu relato conta que seu pai, Mário Augusto Ferreira, natural de Mortágua, concelho do Distrito de Viseu e técnico de contas de profissão, prestara serviço militar em Angola e ali conhecera aquela que viria a ser sua mulher, nascida em Teixeira da Silva, vila que após a independência de Angola, em 1975, alteraria o seu nome para Bailundo.
Iniciam nessa época um negócio de venda diversificada de vários produtos, desde fazendas, electrodomésticos, artigos de mercearia, etc. na vila e concelho de Londuimbale, no Huambo, província a que pertence igualmente o concelho do mesmo nome, antigamente designado por Nova Lisboa.

O regresso a Lisboa, numa incógnita de futuro, sem recursos, levou-os a procurar uma ocupação que fosse garantia de sustento familiar, deparando, no entanto, com uma situação muito difícil, pois em idênticas condições encontravam-se, naquele ano de 1975, mais de um milhão de cidadãos.
Não obstante, Mário Ferreira encontrou emprego na empresa “KNORR”, enquanto sua mulher, Maria José, foi para a companhia de aviação “TAP”. E nestas posições se mantiveram até 1980, ano em que as suas vidas se alteraram completamente, resultante de uma decisão corajosa que havia de se revelar também totalmente acertada.

O destino desta família ficou traçado naquela manhã de Julho de 1980, quando ouviram o Notário pronunciar o texto do contrato de sociedade da “Pastelaria Arca Doce” e o casal se viu elevado à qualidade de gerente.
A partir dessa data deram início a uma transformação na estética da Pastelaria Arca Doce, acrescentando-lhe na fachada a designação de “Casa dos Queques” uma marca que em pouco tempo passou a ser uma referência, num crescendo de procura face à qualidade da sua produção.
Desde 1974 denominada Pastelaria Arca Doce, passou a “Casa dos Queques” em 1980, mantendo em simultâneo a antiga designação e preservando a tradição do nome a que os clientes já se habituaram.
O seu produto ex-líbris, o “queque” é a principal referência da casa, esgotando diariamente a sua produção, embora esta ofereça hoje outras especialidades como são as “empadas de galinha” e os “pastéis de massa-tenra”.
Para o sucesso alcançado, para além da persistência e competência da família Miranda Ferreira – Pai, Mãe, a filha Elsa e o filho Hélder – realce para a dedicação de uma já consagrada colaboradora, Fernanda Alves, “adoptada” muito justamente como membro desta família.
dos livros ” Parede a terra e a sua gente”
autor – José Pires de Lima


