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December 25, 2022
Família Frazão
December 26, 2022das Praias da Parede
A Praia Grande (Praia da Parede) foi de entre todas a que maior número de embarcações locais exibiu ao longo
dos anos. Os “Charutos” e as “Chatas”, estas também utilizadas na faina da pesca artesanal, constituíam um património da terra, actualmente praticamente inexistente.
Modelos construídos por hábeis carpinteiros, e igualmente por grupos de jovens que tendo outras profissões se serviam de desenhos para executarem verdadeiras maravilhas, deslocavam-se entre a Bafureira e a Praia Grande, manobrados com um só remo (nos Charutos) ou com dois remos apoiados em forquilhas (nas Chatas).
Alguns ficaram famosos pela elegância das suas linhas e alta velocidade que atingiam, sendo conhecido o Néné de Vicente de Almeida d’Eça, um Charuto azul, ganhador habitual das corridas promovidas na época.


Um dos mais famosos construtores foi Francisco José Nunes, terceiro de seis irmãos, filhos de Joaquim José Nunes Abegão e de Maria José Moreira, um casal que escolheu vir morar na Parede no ano de 1905.
Joaquim era carpinteiro de grandes obras, tendo ficado ligado à construção dos edifícios gémeos do Colégio da Bafureira.
O apelido Abegão, termo que significa precisamente carpinteiro, terá sido adoptado, mas não faz parte da identidade de nenhum dos seus filhos.
Esta família também ficou conhecida pelos “Mirrados” devido ao facto do Pai, Joaquim José, ter sido encontrado, tolhido de frio e encolhido, num buraco em Tires, após nele se ter escondido durante uma tempestade.
Em 1956 Francisco Nunes exibia o cartão de identidade N.º15 da Câmara Municipal de Cascais mas mantinha uma oficina própria na Parede, onde se dedicava a trabalhos da sua especialidade, entre eles a construção dos “Charutos” que todos os anos descarregava na praia para serem pintados.
Deste trabalho se encarregava o banheiro Vicente Gonçalves, o qual durante a época estival mantinha o negócio de aluguer destas embarcações.



Um conhecimento perfeito acerca destas embarcações é-nos dado pelos desenhos cotados, detalhados, que mestre Francisco José Nunes nos legou.
Não é, no entanto, o único documento existente onde os desenhos de construção destas embarcações se encontram
registados. Relativamente aos chamados “Charutos”, há inclusivamente mais do que um modelo, sendo o facto mais relevante a forma como era manobrada outra das suas versões.
Nesta, o remo (ou Pagaia como se designa a peça nas actuais canoas), constituído por uma vara solta, com uma pá em cada extremidade, manobrada pelos braços livres do remador, era substituído por dois remos, fixos em cada um dos bordos da embarcação e engatados em forquilhas.
Embora a forma (de um charuto) e as suas dimensões fossem semelhantes, a versão com dois remos de uma só pá cada um, dispunha de dois bancos transversais, contrariamente ao modelo clássico com um único banco longitudinal.


o registo destas embarcações típicas das praias da Parede, em desenhos de pormenor. Este seu trabalho incluiu igualmente referências às “Chatas” e a um característico aparelho de pesca artesanal, o “Galricho”, usado pelos pescadores e já neste capítulo sobre “A Família Bateira”.

Desenhou ainda o “Galricho”, uma arte usada também pelos pescadores das praias da Parede para captura de peixes
de pequena dimensão.
É formada por aros de metal revestidos por uma rede de malhagem pequena, que se fixa em águas pouco profundas por acção de uma poita (normalmente uma pedra), e com um isco para atrair o peixe.
Este, ao pegar o isco, faz fechar a rede deixando-o preso.


Artur Miranda Gaspar foi um deles, já atrás citado como instrutor de crianças da Colónia Balnear Infantil de “O Século”, a quem ensinou a nadar na praia da Bafureira, no ano de 1940.
Homem de grande compleição física, ficou famoso quando levantou a sua “Chata” apenas com a força dos seus braços, documento de 1954 que foi possível recolher, embora sendo de fraca qualidade fotográfica.





Nas praias da Parede cimentaram-se amizades antigas e outras novas aí nasceram, entre paredenses e forasteiros. As fotos seguintes são disso prova, demonstrativas também de um saudável convívio.

Maria Manuela, António Alfaia Pinto Pereira, Maria Teresa Brum da Silveira, Cristy, Rui Manuel Alves da Cunha,
Eusébio Marques de Carvalho, Fernando Ferreira dos Santos, Maria Manuela de Oliveira Santos, Maria Augusta

António Alfaia Pinto Pereira, Rui Manuel Alves da Cunha, Nuno Ferrari

Em Cima:
Victor Ferrari, Carlos Aranha Máximo, José Artur Lazameta, João Rodes, Armindo Jorge Pulso, António Ortigueira
Em Baixo:
José Veiga, Carlos Farinha, Fernando Matos, Fernando Silva, Libertário Farinha, Amadeu Marreiros

Em cima:
Rogério, Amadeu Marreiros, Armindo Pulso, Carlos Máximo, João Rodes, Raúl Silva (Sansão), Libertário Farinha
Em Baixo:
Carlos Jorge Franco Desmet (Cajó), Carlos Alberto Cabral, Fernando Silva (Coças), Mário Canelas
Ficaram célebres as provas de natação entre frequentadores das várias praias, relatos descritos no capítulo “O Clube Nacional de Ginástica” e por este clube organizadas.
Disputadas nos diversos escalões masculinos e femininos, tiveram sempre grande concorrência.
Também a “Corrida ao Pato” constituiu um episódio de animação da época balnear, em que nadadores disputavam entre si a possibilidade de agarrarem uma ave lançada ao mar.






dos livros ” Parede a terra e a sua gente”
autor – José Pires de Lima


