
O 1º clube de Bodysurf de Portugal foi criado em Carcavelos e na Parede
September 4, 2023
Estrela da Manhã / Café Alfredo / Café Abreu
September 5, 2023Foi o primeiro em Portugal e destinava-se a tratamento hélio-marítimo.

O Solário da Parede num Postal de 16 de Outubro de 1930
Tratava-se de um terraço com cerca de 1000m2 tendo uns muros a norte, para o proteger dos ventos, com umas cabines onde os doentes se expunham ao sol. Também tinha uma secção especial para crianças.

1930´s Solário da Praia da Parede (actual restaurante Bérrio)
Neste solário não era permitida a frequência de doentes contagiosos e havia em permanência um médico e um enfermeiro. As refeições podiam ser aqui tomadas havendo mesas especiais para os doentes imobilizados.

16 de Outubro de 1930, o Solário da Parede num Postal
Terapêuticos Marinhos ![]()
Era na povoação da Parede que se concentrava o maior número de estabelecimentos de saúde para aproveitamento das virtudes Terapêuticas do Mar, por lhe serem atribuídas características Climáticas “MIRACULOSAS”, únicas no Mundo
só comparáveis às de uma remota praia japonesa.
As primeiras referências sobre os efeitos terapêuticos marinhos têm origem na China e datam de há mais de seis mil anos.
Falam-nos da produção de medicamentos a partir de algas vermelhas retiradas do mar.
Na Antiguidade Clássica, gregos e romanos conheciam os benefícios da água salgada do mar.
Eurípedes afirmava que “o mar cura as doenças do homem” e Hipócrates, poucos séculos mais tarde, prescrevia o seu uso, interno e externo.
Platão terá sido tratado por sacerdotes egípcios através de banhos quentes de água do mar.
O estudo das ciências médicas, iniciado por Hipócrates, o “pai da medicina”, e continuado quatrocentos anos depois por Galeno, pouco evoluiu nos séculos seguintes.
Contudo, durante a Idade Média, sobretudo nos países do Mediterrâneo, os banhos de mar continuam a ser recomendados e usados para fins medicinais.
Mas é só no final do século XVII que surge o primeiro estudo sobre as terapias marítimas, da responsabilidade de Floyer, que publica uma tese em 1697 intitulada “Digressão sobre o bom uso dos banhos de mar quentes e frios em Inglaterra”.
Em meados do século XVIII, o Doutor Richard Russel apresenta a primeira obra médica sobre os benefícios da água do mar, quer utilizada para uso externo, imersão, quer para uso interno, ingestão, recomendada, por exemplo, contra perturbações alimentares.
É da conjugação de três factores que depende a boa aplicação da terapia marinha: as características da água do mar, a atmosfera marítima e as condições climatéricas e topográficas da praia.

1931 Solário da Parede
Em 1778, surge em Dieppe, o primeiro instituto dedicado exclusivamente a tratamentos balneares marítimos e, em 1791, o Doutor John Lathan funda o primeiro hospital marinho, especialmente vocacionado para o tratamento de reumatismo, anemia e algumas doenças infecciosas.
Para além do Doutor Richard Russell, que publicou um livro sobre os benefícios dos banhos de mar em 1750 e fundou as primeiras estâncias balneares em Brighton, outros médicos dedicaram- se a este assunto, designadamente em França, o Doutor Maret (1766) e mais tarde o Doutor Le Couer (1846).
Deve-se ao Dr. Bonnardiere, em meados do século XIX, a criação do termo talassoterapia, do grego “cura através do mar”, designando com ele a utilização das propriedades marinhas com fins terapêuticos.
Esta cura incluía, para além da utilização das propriedades físicas e químicas da água do mar, a areia, as algas e o ar marítimo.
No entanto, é só no início do século XX que o biólogo francês René Quinton estabelece os critérios científicos das terapias marinhas, com a publicação, em 1904, de “A água do mar, meio orgânico”, na sequência das práticas medicinais já bastante difundidas no final do século anterior, utilizando as características marítimas do ar para o tratamento da tuberculose óssea e da água, para imersão do corpo na recuperação motora pós traumática.
Em Portugal é Ribeiro Sanches, com a publicação do “Tratado da conservação da saúde dos povos” (1756) quem primeiro vem alertar para os problemas da higiene e da conservação da saúde, que esteve na origem da criação, em 1813, da Junta de Saúde, que tem um papel importante na legislação e edição de livros dedicados à medicina no nosso país.
É, em 1814, que Francisco Mello Franco, no seu livro “Elementos de Hygiene”, faz as primeiras referências aos benefícios dos banhos de mar, com indicações terapêuticas sobre os banhos quentes, mornos e frios.
Alguns anos depois, em 1820, surge em Portugal uma obra exclusivamente dedicada aos banhos de mar, intitulada “Aviso acerca dos banhos de mar ou Direcção precisa às pessoas que houverem de fazer uso deles”, de um autor que se identifica apenas com treze iniciais: M. J. M. C. L. S. C. I. V. A. R. S. L., editado na Régia Typografia Silvana, onde transcreve alguns capítulos dos “Elementos de Hygiene” de Mello Franco.
O autor recomenda que os banhos de mar sejam tomados entre 15 de Julho e 15 de Outubro, e prescreve descanso, oito dias antes dos banhos e dieta durante a sua toma, aconselhando a moderação na ingestão, tanto de bebidas como de comidas.
Em cada dia não deveriam ser tomados mais que dois banhos (para os mais débeis apenas um, logo pela manhã), e no total vinte, aconselhando o acompanhamento médico durante a estadia na praia para verificar os efeitos sobre o organismo.
Em 1849 o Doutor Manoel Joaquim Moreira Coutinho publica, no “Jornal da Sociedade de Sciências Médicas” um artigo sobre os benefícios dos banhos de mar, mas considerando que têm os mesmos efeitos terapêuticos que qualquer banho frio, desvalorizando as qualidades salinas do mar, e com a vantagem de poderem ser tomados em rios ou tanques, sendo nestes casos muito mais económicos, não obrigando à deslocação dos doentes para o litoral.
Nesse artigo o autor refere que, nessa época, os banhos de mar são muito populares, ao ponto de “o povo os considera já como um tratamento específico geral de toda e qualquer moléstia crónica”.
Um edital do Conselho de Saúde Pública do Reino, de 1856, em virtude da epidemia de cholera morbus, refere que “muitas pessoas costumam fazer, por mera recreação, usos de banho de mar” desaconselhando essa prática sem consulta médica.
Isto indica que em meados do séc. XIX, já se verificava uma alteração nas práticas balneares marítimas, deixando estas de ser exclusivamente terapêuticas para passarem a puramente hedonistas.

Divisórias Asseguravam a Privacidade dos Doentes Enquanto Deitados em Macas se Expunham ao Sol
Alain Corbin (1989) refere que esta evolução foi comum em toda a Europa nesse século.
É também neste século que surgem os primeiros guias para banhistas, com indicações para banhos de mar terapêuticos.
Ramalho Ortigão publica em 1876 “As praias de Portugal, guia do banhista e do viajante” onde, para além da descrição das praias de banhos em uso na época, inclui alguns capítulos com informação sobre “o tratamento marítimo; precauções higiénicas e reconstituição dos temperamentos e dos caracteres pelo banho frio; conselhos às mães”.
Socorrendo-se do dicionário francês de Hidrologia Médica, o autor indica o tratamento marítimo nas praias sustentado em três aspectos: a atmosfera marítima, a água do mar para uso interno e o banho de mar.
- As qualidades da atmosfera marítima, a sua densidade e características químicas, são promotoras do aumento do apetite, da regularidade e velocidade da digestão, para além de estimularem a respiração e o sistema nervoso, pelo que são recomendadas tanto a pessoas fracas, apáticas e de constituição linfática, como para o tratamento de doenças nervosas e inflamatórias.
Estas características do ar junto ao mar são especialmente salutares para crianças com crescimento demorado ou em convalescença difícil.
Contudo são assinalados os possíveis efeitos secundários da excitação, manifestações linfáticas e escrofulosas e as contra indicações para determinadas doenças como a tísica do pulmão.
- A água do mar para uso interno (bebida), é descrita como a que possui a maior mineralização das águas minerais, a mais rica em cloreto de sódio.
Estava indicada como medicamento alterante e laxativo, sendo recomendada para crianças atacadas de vermes.
As suas propriedades medicinais recomendavam-na para doentes linfáticos e escrofulosos.
Ainda segundo a Hidrologia Médica a introdução de ácido carbónico na água facilitava o seu uso.
A água do mar era, ainda, recomendada na higiene íntima das senhoras, por ser curativa nas enfermidades uterinas.
- O banho de imersão na água do mar tinha duas funções: fitoterapêutica e medicamentosa, dependendo da temperatura e da duração do banho.
Era indicado para todos os estados patológicos ligados à debilidade do sangue, ao enfraquecimento orgânico e à depressão do sistema nervoso, sendo por isso recomendado especialmente na infância, e para o sexo feminino.
A acção fisiológica da água do mar sobre o organismo, dada a sua temperatura, a sua composição química e a pressão que exerce sobre a pele durante a imersão, era a razão apontada pelos especialistas para que fosse indicada para robustecer uma população urbana pouco saudável.
Ramalho Ortigão (1876) indica ainda a questão higiénica como um dos factores benéficos dos banhos de mar.
“O que experimenta o corpo ao contacto com a água do mar:
Primeiro uma contenção puramente física, devida à diferença de temperatura entre o corpo e água.
Ao emergir um corpo (37º) na água do mar (22º) esse corpo perderá parte do seu calor e contrai-se.
Esta é a primeira lei que experimentamos em contacto com a água.
Contrai-se o envolcro cutâneo.
Depois uma irritação das papilas nervosas disseminadas à superfície do corpo, devido ao frio, ao choque e à densidade da água, às moléculas salinas, ao estado eléctrico desse liquido e talvez mesmo a outros estados físicos e químicos da água do mar não conhecidos ainda.
Sob a influência dos elementos irritantes, as papilas nervosas, colocadas como sentinelas na periferia do corpo, advertem o cérebro pelo meio do eixo cerebrospinal.
E logo, com a instantaneidade do raio, o eixo cerebrospinal envia por outros nervos, a todos contraírem. os órgãos vizinhos da periferia do corpo, a ordem de se contraírem.
Em resumo contracção dos órgãos sob a influência de duas causas de natureza diferente.
A circulação e o sistema nervoso, sob a influência desta causa excitante, são muito estimulados.
A pele é o que colhe primeiro os maiores benefícios da medicação balnear.
Normalmente, os banhos de mar eram tomados logo ao amanhecer.
Os banhistas entravam no mar pelo seu pé para receber as ondas revigorantes, onde mergulhavam ou, no caso dos mais receosos, eram levados nos braços de banheiros, que procediam ao ritual dos mergulhos, repetidos conforme prescrição médica.
Após o “banho de choque” os banhistas regressavam às barracas para secar, esfregando o corpo com um tecido áspero, até a pele adquirir um tom rosado, para revitalizar a circulação, vestiam-se e descansavam nas barracas de lona da praia.
Nesta época, em Portugal, surgem mais dois estudos científicos sobre a terapêutica balnear: “Banhos de Mar, Elementos de Hydroterapia Marítima” de Luiz Pereira da Costa, em 1882 e “Algumas Palavras sobre Os Banhos de Mar Frios” de José da Costa Freire, em 1887.
É de salientar que em ambos os casos os autores referem que a prática dos banhos se está a desenvolver, estando já bastante enraizada nos costumes populares.
Criticam que essa prática seja feita “tendo como único regulador o capricho, o gosto ou a moda.”
Constante em todas as prescrições aos banhistas é a dieta e o repouso, uma vez que às práticas medicinais marítimas esteve desde sempre associada uma vida social agitada, prática que era condenável, por marinha. propiciar um estímulo exagerado, antagonista dos benefícios da terapia
Na Costa do Estoril as características terapêuticas do mar são, desde finais do século XIX, reconhecidas e exploradas com fins medicinais.
É na povoação da Parede que se concentra o maior número de estabelecimentos de saúde para aproveitamento das virtudes terapêuticas do mar, por lhe serem atribuídas características climáticas “miraculosas”, únicas no mundo só comparáveis às de uma remota praia japonesa.
Esta fama foi alimentada por histórias locais, como a do “Grego”, um judeu que no final deste século, muito doente, encontra a cura para os seus males através do sol e da água do mar , divulgando “a plenas vozes o milagre da sua saúde recuperada a as maravilhas do clima da Parede – ar seco, água cristalina, sol límpido, rochas submarinas cobertas de algas que inundam o ar e a água duma extraordinária profusão de iodo, a mais forte de toda a costa portuguesa”
Nesta época a tuberculose era uma doença bastante comum, considerada também uma doença social.
Os doentes eram, maioritariamente, das classes mais desfavorecidas, onde o perigo de contágio era mais elevado, dadas as condições de insalubridade em que viviam.
Os sanatórios surgiram como um local de cura mas também de isolamento dos tuberculosos.
A opção pela costa da Parede, para a instalação de sanatórios marítimos, não ficou a dever-se exclusivamente às características das suas águas e do seu ar, mas também a razões de ordem social, dados os princípios republicanos e higienistas do Almirante Nunes da Mata, que adquiriu os terrenos onde se desenvolveu esta povoação.
O primeiro estabelecimento hospitalar a utilizar os recursos do clima marítimo na prevenção e tratamento das tuberculoses extra-pulmonares foi o Sanatório Marítimo de Carcavelos , inaugurado em 24 de Agosto de 1902, mais tarde (1921) denominado Dr. José de Almeida.
No ano anterior tinha-se iniciado a construção do Sanatório de Sant’Ana, inaugurado em 1904, mas só concluído em 1912.
Após esta data outros estabelecimento hospitalares foram instalados na Parede;
1916 – Internato Infantil Afonso Costa, 1932 – Preventório da Parede, 1939 – Clínica Hélio-Marítima, 1946 – Hospital Amadeu Duarte, 1947 – Hospital de Nossa Senhora de Fátima.
Esta concentração de serviços de saúde foi consagrada no Plano de Urbanização da Costa do Sol, em 1948, com a classificação de estância sanatorial.
A povoação da Parede, em virtude da sua especilização sanatorial, assistiu a uma crescente procura por doentes, que eram em muitos casos transportados em tabuleiros “tratava-se de uma espécie de maca, um carrinho com quatro rodas de bicicleta e um volante”
Por este motivo, a Parede, foi em meados do século XX, uma precursora da eliminação das barreiras arquitectónicas nos espaços públicos, existindo por toda a vila rampas que permitiam o acesso dos “tabuleiros” à praia, às casas, ao cinema e à igreja.
De todos os estabelecimentos de saúde existentes na Parede, merece destaque o Sanatório de Sant’Ana, quer pela arquitectura exemplar, da autoria de Rosendo Carvalheira, com a colaboração de Álvaro Machado, António Couto Abreu, Norte Júnior e Marques da Silva, quer pela história da sua fundação, ensombrada pela morte de todos os seus promotores.
Este sanatório é fruto do interesse pelas terapias marinhas do Prof. Sousa Martins e do empenho do casal Biester que financiou a obra.
A sua instalação neste local, escolhido pelas características climatéricas muito específicas, veio a terapêutico único.
No início das práticas terapêuticas marítimas a exposição ao sol era evitada, sendo imprescindível o uso de um chapéu de abas largas e o guarda-sol, para evitar a exposição aos raios solares.
Mais tarde, já nos anos 20, a pele bronzeada passa rapidamente a ser moda, deixando de ser sinónimo das classes trabalhadoras.
Os benefícios dos banhos de sol viriam a ser reconhecidos no tratamento e na profilaxia dos diferentes tipos de tuberculose osteoarticulares.
A esta utilização curativa dos efeitos do Sol chamou-se helioterapia.
O tratamento heliomarítimo era aplicado, por regra, seguindo a técnica de Rollier , que definia os minutos de exposição ao sol, para cada parte do corpo, ao longo de sete dias.
Para este tipo de terapia foi construído, ainda na Parede, o Solário da Pedra Alta , dirigido por Marques da Mata que o considerava “um estabelecimento único no seu género em Portugal”.
O projecto deste solário era da autoria do Eng. Ressano Garcia e foi inaugurado em 16 de Outubro de 1930.
Na última metade do século XX a fama das virtudes terapêuticas do sítio da Pedra Alta levava autênticas multidões a procurar um bocadinho de espaço par apanhar aquele Sol e atmosfera marítima .
Até há poucos anos ainda existia, transformado num restaurante e praticamente sem alterações, mas foi demolido em 2005, restando apenas as grandes esplanadas em cimento sobre o mar.
fontes – Histórias da História de Cascais – H2C / C.M.Cascais / ULFBA


